quarta-feira, 1 de julho de 2009

Aquilo que me cabe

Era noite.
Cegos de tanto vê-la, os companheiros precisavam estranhar a noite para admirar sua beleza. Doía pensar como o tempo distorcia a forma eufórica e estática que observavam o mundo. Pensavam até na fórmula do Elixir da euforia constante, mas depois baixavam os pensamentos ao lembrar que a constância também cai na garganta do descaso.
A angústia os tomava, pois eram companheiros fieis, quase partes de si. Como se a companhia de um ao outro fosse dona de ambos, como se eles fossem peças acomodadas, tão bem acostumadas, que até pareciam ter um encaixe perfeito. A dor era pensar que o tempo levaria tudo, inclusive a companhia que lhes era parte.
Era impossível guardar aquele momento, todos os momentos acabam. E todos dois pertenciam aos momentos. Tomado de coragem, um dos companheiros arrancou um fio do seu cabelo e entregou ao outro, com o intuito de captar as vibrações do tempo que não se fazia presente.
O outro companheiro agarrou o fio como se fosse a peça chave de toda sua vida. Não passou mais que cinco segundos até que ele jogasse o fio abismo abaixo, mantendo em sua face uma expressão triste da perda misturada à alegre sensação de eternidade.
O companheiro, profundamente magoado, repartindo-se em moléculas, pergunta:
- Por que jogaste no abismo o pedaço de mim que entreguei com tanto carinho?
O outro, com um sorriso escondido no canto do olho, responde:
- Porque quando o tempo te fizer distante, saberei onde estará para sempre um pedaço teu.



isso é para jogar as lembranças no abismo, inclusive a nossa inocente idéia de guardar o tempo.

4 comentários:

yolanda disse...

que lindo. é de tu autoria? posso mostrar no meu blog fazendo referencia a ti? bj

Jessika disse...

sim e sim^^

Morgs disse...

tu é linda. =*

Dianety disse...

Que lindo! Nunca tinha pensado nisso.. Realmente, não há como guardar o tempo e as lembranças, só jogando tudo no abismo mesmo. Delicado =]