segunda-feira, 2 de maio de 2011

O homem que se deixava roubar

Existiu nesse planeta um João de Tal. Era franzino e tinha cheiro ruím. Era de muitas ganâncias e poucas alegrias. Era de se esparramar nas superfícies, mas não conseguia ir muito fundo. Era um homem de muitas caras e amores perdidos.

Num bolso, guardava suas pretensões e sonhos, no outro, escondia o seu vazio doloroso, resquícios dos roubos que fazia de si mesmo. Vivia de lembranças da época em que ele era feliz, mas sua visão falha o impedia de enxergar seu próprio sorriso no espelho. Ninguém sabe ao certo se ele enxergava.

João de Tal tinha mil e um amigos, mas deixou seu egoísmo roubá-los de si.
João de Tal tinha uma família até bem acolhedora, mas deixou sua ganância roubar-lhe a ligação com seus parentes.
João de Tal tinha perspicácia e inteligência, mas ninguém sabe onde elas se esconderam.

Um dia, João de Tal, se tocando de que estava vazio de si, resolveu acusar as pessoas ao seu redor dos roubos que ele mesmo tinha se feito. É claro que elas ficaram desconfortáveis com a situação, e, até mesmo tristes e cada um foi buscar um abraço gostoso com seus amigos e amores.

João de Tal, com sua visão falha, não conseguiu enxergar o mal que plantava a si mesmo. Não conseguiu entender que a culpa que ele jogou para o mundo estava alojada lá dentro. João de Tal sentia vontade de chorar, mas não via por quê. Ele se deixou roubar a própria coragem de permanecer vivo, morreu sem saber.

domingo, 1 de maio de 2011

Atualize, antes que seja tarde demais. (Sobre blogs)

Passei uns trinta e poucos dias esquecendo do blog. No fim de um domingo tranquilo, tenho a ideia de acessar a conta do blog, com um e-mail antigo do yahoo, mas logotipo da google. Clico enter. Vem à minha tela a mensagem: "atualize sua conta, antes que seja tarde demais". Mantive a senha e o e-mail.
Esse foi um dos poucos momentos em que me senti uma velha, lembrando daquele e-mail engraçado que fiz quando ainda era adolescente. Dos amores que eu fantasiava em sala de aula e em salas de bate papo (nos meus 13 anos as salas de bate papo não se resumiam a sexo), dos meus mil e um sonhos com Che Guevara e alguns cabeludos do rock. Quando eu tinha tempo para olhar a janela na madrugada sem saber apontar para a tristeza, mas ao mesmo tempo feliz por pensar em mim, ou nas estrelas.
Eu era feliz e sabia. Eu era infeliz e sabia. Eu sabia, mas não sabia.
Estive lendo uns blogs abandonados e me perguntando sobre os blogueiros. Senti aquela pontadinha de aflição. Vim aqui e pronto. Atualizei.
Para o domingo, agora é tarde demais. Mas para a segunda... ainda é cedo.