segunda-feira, 6 de julho de 2009

Requiem for a dream

"Por que ser pertencente é entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente.), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não ter pertence não tem corpo.
Porque o corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea."
"Cantares" - Hilda Hilst.

Hilda Hist nem precisou graduar-se em física para conceituar a matéria e o seu espaço. E eu... uma cretina deslumbrada, tentando apegar-se a um verso, uma manhã chuvosa e Mozart para começar a viver arbitrariamente na segunda.
Ai- Ai... preciso de tantas coisas para conceituar as outras...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Aquilo que me cabe

Era noite.
Cegos de tanto vê-la, os companheiros precisavam estranhar a noite para admirar sua beleza. Doía pensar como o tempo distorcia a forma eufórica e estática que observavam o mundo. Pensavam até na fórmula do Elixir da euforia constante, mas depois baixavam os pensamentos ao lembrar que a constância também cai na garganta do descaso.
A angústia os tomava, pois eram companheiros fieis, quase partes de si. Como se a companhia de um ao outro fosse dona de ambos, como se eles fossem peças acomodadas, tão bem acostumadas, que até pareciam ter um encaixe perfeito. A dor era pensar que o tempo levaria tudo, inclusive a companhia que lhes era parte.
Era impossível guardar aquele momento, todos os momentos acabam. E todos dois pertenciam aos momentos. Tomado de coragem, um dos companheiros arrancou um fio do seu cabelo e entregou ao outro, com o intuito de captar as vibrações do tempo que não se fazia presente.
O outro companheiro agarrou o fio como se fosse a peça chave de toda sua vida. Não passou mais que cinco segundos até que ele jogasse o fio abismo abaixo, mantendo em sua face uma expressão triste da perda misturada à alegre sensação de eternidade.
O companheiro, profundamente magoado, repartindo-se em moléculas, pergunta:
- Por que jogaste no abismo o pedaço de mim que entreguei com tanto carinho?
O outro, com um sorriso escondido no canto do olho, responde:
- Porque quando o tempo te fizer distante, saberei onde estará para sempre um pedaço teu.



isso é para jogar as lembranças no abismo, inclusive a nossa inocente idéia de guardar o tempo.