sábado, 29 de novembro de 2008

O legado de minha miséria

Algum lugar deste mundo, 15 de abril de 1979.

Alguém há de lembrar do nosso tempo quando as horas estiverem falhas. Sem nenhuma pretensão de espaço ou idéia do fim, haverá alguém para abrir as gavetas empoeiradas da lembrança. Estarão petrificadas as nossas cenas de vida como fitas de cinema em pausa. Depois os cafés que dividi com todos que assassinei. As suas inseguranças antes de dormir. A insônia misturada ao meu mal secreto e ilegal. As noites curtas em San Marino. A minha juventude francesa e a ignorância da sua juventude atual. A minha prepotência e a sua impaciência, esperando por um acontecimento a mais, esperando por uma mudança radical em sua vida, um tédio que cansou do seu comodismo.
Alguém há de chorar e alagar a miséria que sempre foi fluido que uniu o meu e o seu tempo, até perceber, que, apesar de diferentes, naufragamos no mesmo cais, nos encontramos em um mesmo corpo e nossos objetivos são os mesmos, mesmo quando estamos em estações diferentes.
Nunca pensei em comunicar-lhe isso, mas sou um fruto do acaso.


Veronicka