segunda-feira, 2 de maio de 2011

O homem que se deixava roubar

Existiu nesse planeta um João de Tal. Era franzino e tinha cheiro ruím. Era de muitas ganâncias e poucas alegrias. Era de se esparramar nas superfícies, mas não conseguia ir muito fundo. Era um homem de muitas caras e amores perdidos.

Num bolso, guardava suas pretensões e sonhos, no outro, escondia o seu vazio doloroso, resquícios dos roubos que fazia de si mesmo. Vivia de lembranças da época em que ele era feliz, mas sua visão falha o impedia de enxergar seu próprio sorriso no espelho. Ninguém sabe ao certo se ele enxergava.

João de Tal tinha mil e um amigos, mas deixou seu egoísmo roubá-los de si.
João de Tal tinha uma família até bem acolhedora, mas deixou sua ganância roubar-lhe a ligação com seus parentes.
João de Tal tinha perspicácia e inteligência, mas ninguém sabe onde elas se esconderam.

Um dia, João de Tal, se tocando de que estava vazio de si, resolveu acusar as pessoas ao seu redor dos roubos que ele mesmo tinha se feito. É claro que elas ficaram desconfortáveis com a situação, e, até mesmo tristes e cada um foi buscar um abraço gostoso com seus amigos e amores.

João de Tal, com sua visão falha, não conseguiu enxergar o mal que plantava a si mesmo. Não conseguiu entender que a culpa que ele jogou para o mundo estava alojada lá dentro. João de Tal sentia vontade de chorar, mas não via por quê. Ele se deixou roubar a própria coragem de permanecer vivo, morreu sem saber.

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