segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ontem outrora, Outono!

Lembro de agosto porque foi um dos meses mais fodidos que vivi antes de deixar-te. Eu lembro das meias brancas que eu usava e lavava-as todos as noites para que o barulho das gotas d' água que escorriam viesse me tirar o sono. Do silêncio ensurdecedor que eram aquelas tardes de puro sadismo que Deus havia me arranjado.
Tento me esquecer das tardes, elas eram como engrenagens de ferro que maceravam-me o tronco que se reconstituia à noite. E era nessa boca que eu me libertava, passava as tardes todas engolindo seco o áspero desprazer da tarde e não me arrependia por conta do orgasmo noturno. As manhãs de agosto eram o mistério, as peripécias da vida escolhiam-na para tomar um café. Eu não existia nas manhãs, dissolvia à tarde e reconstituía a noite.
Tive que morder fios de aço para permanecer no medíocre agosto. Enrugava a face, cravava os dentes e o aço descia garganta abaixo. Depois desse exercício diário, era a vez de sujar meu corpo no seu para fingir a sua felicidade. Não houve um dia sequer naquele maldito calendário em que estive contente por sua causa.
Agosto e você me ensinaram a não ter o menor medo da solidão. Exceto as noites - que me ensinaram a amar o outono.

Clarissa